Eliane Marta Teixeira Lopes é a entrevistada do sétimo episódio da quinta temporada do "Conversações". Eliane é professora emérita da UFMG, mestre em Educação e doutora em Filosofia da Educação, com diversos trabalhos nas áreas de atuação, dos quais destacam-se os seguintes temas - história da educação, psicanálise, religião e história da formação de professoras. A casa da autora é praticamente uma Babel Literária, tamanho o acervo espalhado pelos ambientes – sala, corredor, quarto, oficina – como ela chama, carinhosamente, o espaço dedicado à leitura e escrita. Caminhar pelo apartamento de Eliane é deparar-se com muitas referências literárias, estéticas e memorialísticas - fotografias de família, obras literárias que marcaram sua infância, dicionários (uma verdadeira paixão, tanto que ela nos apresenta um que foi do avô e diz, toda orgulhosa: “eu herdei todas as palavras da família!”), livros em diversos idiomas, pinturas e esculturas que a acompanham há décadas. Eliane Marta, que nasceu e vive no bairro Santo Antônio-BH, é autora do livro com mesmo título, “Santo Antônio”, pela Coleção “BH. A cidade de cada um”, conceito editorial, em que recupera memórias de infância, família, vizinhos - pessoas que, no entendimento dela, “são importantes porque importam”, no sentido de se valorizar o que representam como cidadãos e vizinhos, independente de serem famosas ou não. No episódio, em meio às lembranças, referências literárias e (re)memórias da autora, uma pausa para o chá com torradas, outra paixão de Eliane. E como torrada combina com geléia, levamos uma especial de laranja, produzida por ninguém menos que a poeta Simone Andrade Neves, que vive em São Bartolomeu, distrito de Ouro Preto. A geleia motivou nossa ida ao lugarejo onde o tempo parece não correr de tão calmo, conversar com a Simone e conhecer o quintal de onde ela colhe as laranjas. O bate-papo o público confere no youtube da Rede Minas, logo após o episódio. Em meio ao chá com torradas, Eliane Marta fala do livro organizado por ela, intitulado: “Cartas - Constança Guimarães (1871-1888)”, Quixote +Do, livro que nasceu a partir de um verdadeiro achado no Arquivo Público Mineiro, as trocas de correspondências entre a jovem Constança, filha de Bernardo Guimarães, nascida e criada em Ouro Preto, e as primas que, à época, mudaram-se para o Rio de Janeiro. Além de retratar o cotidiano de Constança, o livro dialoga com temáticas importantes como o abolicionismo, visto que o pai de Constança, Bernardo Guimarães, era um defensor da causa, e saúde pública, ao destacar a tuberculose, doença que matou milhares de pessoas no século XIX e início do XX e acometeu Constança, as primas, familiares, amigos e vizinhos. Não por acaso, dentre os autores evocados por Eliane está Thomas Mann, autor do clássico “A montanha mágica”, inspirado na doença da esposa de Thomas, Katharina Mann, que teria sido internada num sanatório, na Suíça, para se curar de uma tuberculose, em 1912. As cartas, embora revelem um contexto social de época, fragmentos da história do Brasil, de lugares e personagens reais, também podem ser encaradas como realidades ficcionalizadas porque passam pelas subjetividades, memórias, romantismo, desilusões e toda ordem de sentimentos de quem as escreve. Nem por isso perdem o viés documental e literário. Pelo contrário. Eliane encerra o livro com um ensaio em que traz suas considerações como pesquisadora, educadora, escritora e observadora atenta que é. Ainda que não tenha sido tema da conversa, “A Origem da Educação Pública”, é um importante trabalho da autora. Eliane descreve traços provenientes da Revolução Francesa que impactou a educação no país, ainda aponta o caráter burguês do modelo educacional vigente e o papel da meritocracia.